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Conexão de internet por luz pode antecipar Agro 5.0 no Brasil

Postado em: 10/08/2020

Talvez principal obstáculo para a digitalização no campo, a conectividade pode ter, no futuro próximo, uma solução surpreendente que vai além do 5G. Os pesquisadores do Inatel (Instituto Nacional de Telecomunicações) estão desenvolvendo uma conexão de internet de alta capacidade por luz.

É isso mesmo. A luminosidade do ambiente onde você está agora também pode transmitir o sinal e trazer acesso a todos os recursos da web com altíssima velocidade.

No caso do agronegócio, o sistema funcionaria com a chegada do sinal por fibra ótica até a propriedade e ampliaria a “vazão” do sinal em centenas de vezes por meio de pivôs centrais de luz, por exemplo.

Professor Arismar, do Inatel, enxerga potencial da tecnologia para o agronegócio. (foto – Inatel)

“O sistema demandaria a chegada do sinal às fazendas, já que a luz não tem alcance de quilômetros. A partir daí, o sistema de comunicação por luz visível torna possível a conexão de grande número de equipamentos graças à velocidade que pode chegar a 1 Tbps”, explica o coordenador da pesquisa no Inatel, Arismar Cerqueira Sodré Junior.

Deste modo, a capacidade para uso de imagens, áudio e dados seria a ideal para o Agro 4.0 para decisões em tempo real e, até mesmo, o Agro 5.0 com níveis superiores de automação e robótica.

Segundo especialistas, Agro 5.0 é o conceito que prevê as “ghost farms” (fazendas fantasmas), que funcionarão apenas com robôs, softwares e mecanização, sem a mão humana.

O sistema de comunicação por luz visível, VLC (do inglês, Visible Light Communication), como também é chamado, já é uma realidade no mercado, mas com imenso potencial de expansão com as futuras redes de comunicações móveis.

No Inatel, os pesquisadores do Laboratório WOCA (Wireless and Optical Convergent Access) conseguiram transmissões utilizando o padrão pré-estabelecido para as redes de 5ª geração com velocidades de até 20 Gbps para o usuário final.

Detalhes dos equipamentos para transmissão de internet por luz. (foto – Inatel)

“Estamos muito à frente do que é utilizado hoje no mercado, porque o VLC vai além do 5G e vale inclusive para o 6G. É uma pesquisa de vanguarda e reconhecida por pares e revistas acadêmicas mundialmente. A tecnologia está pronta para transferir para a indústria. Nada impede que isso entre no mercado”, completa.

Segundo o professor Arismar, o primeiro experimento de VLC no mundo, no entanto, foi realizado por Alexander Graham Bell, em 1880, nos Estados Unidos.

“O interesse por esse sistema foi retomado nos últimos anos devido às vantagens de altíssima velocidade e robustez à interferência eletromagnética, por ser baseada em luz”, afirma.

Ele complementa que os testes nos laboratórios do Inatel já visam as futuras redes de sexta geração, o 6G, previsto para 2030, com velocidade que pode chegar até 1 Tbps, milhares de vezes mais que a vazão atual de dados para o usuário.

Vantagens

O sistema VLC apresenta ainda outras vantagens, segundo o pesquisador Marco Aurélio de Oliveira, que desenvolve o estudo. “Entre elas, economia de energia e maior segurança, já que o feixe de luz não atravessa parede. Outra vantagem é que o sistema pode ser utilizado em ambientes restritivos à transmissão por radiofrequência, como aeronaves e hospitais”, conta.

O professor Arismar cita ainda a aplicação na comunicação entre chips, que será muito utilizada no 6G, e a Internet utilizando as próprias redes de energia elétrica, conhecida como PLC (Power Line Communication), em conjunto com o VCL.

Vale lembrar que a transmissão por luz não exige licenciamento de órgãos reguladores e as pesquisas mostram que o sistema funciona bem com diferentes padrões de telecomunicações. Há poucos produtos com essa tecnologia, mas a previsão é que esse mercado alcance até 75 bilhões de dólares até 2023.

Pesquisas em 6G

O Inatel, por meio do Centro de Referência em Radiocomunicações, concentra pesquisas em 5G e mais recentemente em 6G. Em dezembro, o CRR criou o Projeto Brasil 6G, apoiado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).

O Projeto estabeleceu parceria com o 6G Flagship Project, da Universidade de Oulu, na Finlândia, líder mundial das pesquisas nas futuras redes de comunicações móveis. Inclusive, por meio desta parceria, os nossos doutorandos podem obter Diploma de Doutorado duplo, pelo Inatel e pela Univesidade de Oulu. (com informações do Inatel)