Qual o impacto da Covid 19 na digitalização do agro no Brasil?
Estudo aponta tendências para a inovação do agro em uma "Economia de Baixo Contato"
A Covid-19 deve acelerar em muito a transformação digital da agricultura brasileira para atender a “nova economia” que pode emergir após a pandemia.
Dois estudos divulgados recentemente convergem para esta mesma previsão. Enquanto o primeiro detalha os hábitos digitais do produtor brasileiro, o segundo aborda o surgimento da “Economia de Baixo Contato” em decorrência do novo coronavírus.
Realizada pela McKinsey, a pesquisa “A Mente do Agricultor Brasileiro na Era Digital” entrevistou 750 agricultores (cinco culturas diferentes e 11 estados) e mostra que o produtor brasileiro já é inclusive “mais conectado” na comparação aos estadunidenses.
Cerca de 85% dos agricultores brasileiros já usam WhatsApp diariamente e 71% consultam ainda outros canais digitais para questões relacionadas à fazenda. Nas novas fronteiras como Matopiba e Cerrrado, o número sobe para 97%.
A comparação com os EUA é interessante. No Brasil, 36% dos pesquisados fazem compras online para a fazenda, contra 24% nos EUA. Além disso, os agricultores brasileiros são mais jovens, o que é um fator central para a adoção tecnológica.
A PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE mostra que 52,4% dos donos de propriedades no Brasil têm até 45 anos de idade. Nos EUA, o número não passa de 20%, enquanto na Europa 29%.
Na pesquisa da McKinsey, os mais propensos a adotar outras inovações são justamente os 48% com menos de 35 anos.
Impacto da Covid 19
Este perfil “mais aberto e jovem” também favorece a adoção tecnológica como resposta a um dos maiores choques sociais da história recente da humanidade: a Covid-19.
Para alguns, como a consultoria norte-americana Board of Innovation, a pandemia do novo coronavírus fará emergir um novo modelo de economia chamado “Low Touch Economy”, ou “Economia de Baixo Contato”.
Este novo padrão será formado por profundas mudanças em práticas, hábitos e, mesmo, regras de todas as cadeias produtivas, inclusive do agronegócio.
O objetivo será sempre reduzir a interação humana e garantir a sanidade de produtos e serviços.
Segundo o estudo da Board of Innovation, algumas novas realidades sociais emergentes da pandemia serão as principais motivações para o novo modelo econômico.
Entre elas, estão:
- Mais ansiedade, solidão e depressão nas pessoas,
- Pouca confiança sobre higiene de pessoas e produtos,
- Restrições de viagens, trabalho doméstico,
- Tensão crescente e conflitos em todos os níveis,
- Desemprego global
- Take away e entrega a domicílio para qualquer item
- Contato limitado com idosos
- Nossa identidade é mais do que nosso trabalho
- Até mesmo valorização de consumidores com “imunidade certificada”
Mas como isso afeta o agro ou a inovação no setor?
Os primeiros impactos da pandemia no setor já podem ser notados.
Especialistas no universo da inovação no agro, por exemplo, já apontam o e-commerce, as fintechs e agtechs de logística (inclusive deliverý) como imediatamente “favorecidas” pela crise sanitária.
Uma segunda onda, de médio prazo, também incluiria incremento da automatização em todas as etapas das cadeias (desde insumos até operação na fazenda), biotechs de embalagens e análise laboratorial (para certificação de higiene) e startups para conservação e distribuição “sem contato humano” (mini-robôs e drones para entrega ou boxes eletrônicos como lojas de alimentos).
No futuro, agtechs de genética, genômica, foodtechs e outras também poderiam ser impulsionadas se apresentarem soluções capazes de melhorar a saúde, a imunidade ou mesmo a “confiança” dos consumidores.
Em todos os casos, a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação serão ferramentas estratégicas seja para a adaptação como para geração de novos negócios no cenário que ainda se apresenta de maneira incerta.
Caracterizadas pela capacidade de reagir rápido e adaptar-se a mudanças, as startups em geral e, especificamente as agtechs, terão oportunidades ainda mais variadas, antecipadas e relevantes para a sociedade.
Foi assim em 2008 quando uma grande crise econômica alavancou diversas empresas disruptivas e tudo indica que será ainda mais agora, já que a crise não é só econômica, mas sanitária, social e, talvez, “existencial”.