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Startups invadem o agronegócio

Postado em: 17/03/2019

TECNOLOGIA

 

Com o melhor desempenho da economia, o setor primário vem atraindo as startups, empresas que prometem soluções inovadoras

 

11/07/2016 - 23h00minAtualizada em 11/07/2016 - 23h01min

 

FERNANDA COIRO

 

Agrotechs surgem para atender demandas do setor por inovaçãoAdriana Franciosi / Agencia RBS

 

O investimento em tecnologia no campo não é novidade. Produtores e empresas estão sempre em busca de soluções para facilitar e aprimorar o trabalho. Agora, além das companhias tradicionais, as startups também se voltam para o agronegócio, setor com o melhor desempenho na economia brasileira. Somente nos últimos cinco anos, a expansão das startups do agro, chamadas de agrotech, foi de 70%.

 

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Conforme o coordenador do Comitê Agrotech da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Alexandre Bio Veiga, os investimentos no setor primário têm como principal motivação os números positivos.

 

– O movimento ainda é tímido no Brasil, mas o cenário está mudando – relata Veiga.

 

As agrotechs, seguem os mesmos princípios das demais - empresas inovadoras associadas à tecnologia. Embora sejam investimentos de risco, as companhias têm atraído jovens com perfil empreendedor e que buscam autonomia. Segundo dados da ABStartups, são 4.180 empresas cadastradas no país, sendo 212 no Rio Grande do Sul, o quarto colocado no ranking nacional. No agro, há 23 empresas, mas há outras áreas relacionadas, como meio ambiente (14), por exemplo.

 

Ao contrário dos produtos desenvolvidos para o segmento urbano, no agronegócio a criação é feita a partir de uma demanda específica. É o caso da Aegro, startup gaúcha que desenvolveu um software de gestão voltado às lavouras. O pontapé inicial se deu a partir da necessidade do agrônomo e sócio da companhia, Valmir Menezes. Ele precisava de um sistema que pudesse substituir os dados compilados nas planilhas de Excel em informação. Ao conversar com os jovens Pedro Dusso, 28, Paulo Silvestrin, 27, Francisco Borja, 28, e Thomas Rodrigues, 27, decidiram criar o projeto.

 

– Com nosso produto, o cliente diminuiu o tempo de planejamento da safra. Antes demorava de duas a três semanas. A agora leva apenas três dias – comenta Dusso, CEO da Aegro.

 

Conforme verificavam as necessidades, aprimoraram o sistema. Hoje, é possível cadastrar a área produtiva, as atividades executadas, o tempo para isso e a comparação do planejamento inicial com o resultado.

 

As soluções levaram a Aegro a ser premiada pelo SAP Hana Innovation Award 2016, na Flórida, Estados Unidos, um dos principais em nível mundial. Ficaram em segundo lugar na categoria Next Generation Apps, superando grandes marcas, como Intel e Reuters.

 

Potencial de crescimento

 

Aegro criou software de gerenciamentoAdriana Franciosi / Agencia RBS

 

Criada em 2014 com investimento de R$ 50 mil, a Aegro já colhe frutos. Após um ano e meio de trabalho, obteve investimento da aceleradora Wow.

 

– Decidimos aplicar recursos nesta startup, pois o projeto tem alto valor agregado e potencial de expansão - destaca o fundador e CEO da Wow, André Ghignatti.

 

Mas nem tudo são flores no universo das startups. Embora o mercado seja crescente, cerca de 90% das empresas deixam de existir até o segundo ano de vida.

 

– Isso ocorre porque a startup não consegue provar que o modelo de negócio é adequado para aquele público e momento – explica Veiga, da ABStartups.

 

O problema foi enfrentado pela Checkplant, de Pelotas. Em 2003, quando foi fundada, a marca desenvolveu um software que rastreava frutos desde a produção, processamento, até a saída da fábrica. Apesar de comprovarem a eficácia, os clientes locais não eram atraídos pelo produto, elaborado por André Cantarelli e Alexandre Fachinelo. Mas a dupla não se intimidou e partiu em busca de clientes em outras regiões.

 

– Acreditamos no projeto e apresentamos para produtores do Vale do São Francisco, na cidade de Petrolina (PE), que tinha como foco a uva de mesa para exportação – detalha Cantarelli, diretor-geral da empresa.

 

O resultado foi a criação de softwares de gerenciamento - denominado caderno de campo - e de rastreabilidade e estoque - chamado checktracing. Os clientes da região acabavam contratando os dois serviços. A experiência motivou os sócios a desenvolverem outros aplicativos. A expectativa é ampliar a base de clientes entre 100% e 150% neste ano e, para 2017, a meta é dobrar os resultados de 2016.

 

Qualificação constante

 

Não basta criar algo viável e de interesse, os empreendedores também precisam aprender a gerenciar o próprio negócio. Pensando nisso, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RS) instituiu o programa Desenvolver e Fortalecer as Startups Gaúchas - Startup-RS. Durante cinco meses, o projeto oferece suporte, consultoria e acompanhamento. Débora Chagas, coordenadora do programa de TI e de startups do Sebrae/RS, diz que há muitas oportunidades para quem se dedica a esse modelo de negócio.

 

– A demanda por soluções é cada vez maior e as startups surgem para atendê-las – diz Débora.

 

Em um ano e meio, participaram 57 startups, sendo três voltadas ao agronegócio. A Control Milk é uma delas. A partir das orientações dos técnicos do Sebrae, a empresa localizada em Teutônia, no Vale do Taquari, elaborou um sistema gerencial integrado para acompanhar o desempenho zootécnico e financeiro de propriedades leiteiras. Com isso, a Control Milk aprimorou o produto e pode ampliar a rede de contatos.

 

– No início, nossa maior dificuldade foi sair da zona de conforto, construir de forma rápida, adequada e com poucos recursos. Por isso, buscamos orientação – afirma Dionatan Henrique Hamester, sócio e responsável pela área de tecnologia da marca.

 

Expansão de negócios

 

O panorama favorável das agrotechs, além do desempenho do setor primário, é impulsionado pelo ingresso e investimento de grandes corporações.

 

– No momento em que empresas como Monsanto, Bunge e Basf começam a investir, outros empresários passam a fazê-lo – comenta Alexandre Bio Veiga, da ABStartups.

 

A Monsanto anunciou na semana passada sua entrada no fundo de investimentos Brasil Aceleradora de Startups – a BR Startups. O aporte inicial será de R$ 250 mil a R$ 1,5 milhão.

 

A Monsanto também está apostando em sua afiliada de agricultura digital The Climate Corporation no Brasil.

 

Quando o assunto é a agricultura, o Brasil é referência. Este é o momento para investir em inovação – diz Mateus Barros, líder comercial da Climate para a América do Sul.

 

Como as tecnologias rompem fronteiras, as startups brasileiras voltadas ao agronegócio têm buscado parceiros também no Exterior. Marcelo Poletti, CEO da Promip, de São Paulo, esteve na última semana em Londres reunido com potenciais investidores. A startup, fundada há 10 anos, trabalha com o controle biológico aplicado de pragas.

 

Na Aegro, também há um projeto de expansão internacional nos próximos anos. Dois estagiários estrangeiros ajudam no planejamento e na adoção de estratégias para exportação do software a outros continentes.

 

Como funciona o Startup RS
Startups em formação ou com CNPJ participam de um edital de seleção.
Os projetos são avaliados por um grupo de especialistas do Sebrae, aceleradores, parques tecnológicos e parceiros.
Após aprovação, os empreendedores participam de workshops e palestras. Também recebem consultoria do Sebrae e orientações de como aprimorar o negócio. Informações: zhora.co/startupsebrae.
Fonte: Sebrae-RS

 

Startups em Números
No Brasil são 4.180 empresas
23 são cadastradas em agronegócio
14 são cadastradas em meio ambiente

 

Ranking Brasil
São Paulo 1295 (31% )
Minas Gerais 363 (9%)
Rio de Janeiro 339 (8%)
Rio Grande do Sul 212 (5%)
Paraná 189 (5%)
Fonte: Associação Brasileira de Startups

 

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